Inclusão: Transtorno Déficit de Atenção/Hiperatividade
Desafio X Aceitação
Lúcia Maria Torres Felippin
A Escola Nova Lar de Menores em Viamão, há muitos anos trabalha não só com a recuperação do menor, mais também incluindo esses menores no ensino, como alunos com necessidades educativas especiais, assim denominando-se uma escola inclusiva, capaz de educar a todos, sem discriminação, respeitando suas diferenças; uma escola que abrange a diversidade das crianças e oferece respostas adequadas às suas características e necessidades.
O que é ser um aluno com necessidades especiais? Segundo CNE/CEB/MEC. Resolução 02/2001, art.5:
“Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no seu processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: aquela não vinculada a uma causa orgânica especifica; aquelas relacionadas às condições, disfunções, limitações ou deficiências. Dificuldade de comunicação e sinalização diferenciadas dos alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; altas habilidades/ superdotação, grande facilidade de aprendizagem dominando rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes”.
Algumas dessas crianças vêm da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde a aprendizagem ocorre através de níveis. Quando o aluno apresenta um desenvolvimento tanto na escrita, leitura ou em outras áreas é encaminhado para o ensino regular. Nesse momento a Escola Novo Lar integra essas crianças, fazendo com que se desenvolvam suas dificuldades de maneira participativa, ativa e significativa.
Dentro desse processo de inclusão várias atividades extracurriculares são oferecidas pela escola como curso e oficinas como: informática, violão, serigrafia, capoeira, teatro, dança de rua entre outras.
Segundo a conclusão do relatório “Docência em Series Iniciais[1]”: “A educação é bela de se admirar, cheia de desafios que muitas vezes não sabemos se vamos conseguir superar, uma luta constante por descobertas e aperfeiçoamento, futuro incerto e esperança contínua. Por que futuro incerto?
Um dos grandes desafios para escola diante do educando é trabalhar com o processo de inclusão, além de introduzir o mesmo dentro de uma sala de aula, deve-se preocupar com a qualificação do educador fazendo com que o mesmo refaça um ajustamento curricular, trabalhando conforme o nível de capacidades e potencialidades de seus alunos. O mesmo tem que estar preparada para acolher essas crianças, revendo maneiras de estimular e trabalhar com o hiperativo duma forma integrativa, ter o auxilio não só da gestão escolar, mais da família como apoio para o desenvolvimento total desse educando.
Tendo também, ao seu lado uma rede continua de apoio. Segundo a Declaração de Salamanca:
Para crianças com necessidades educacionais especiais uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagem dentro da escola expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoais de apoio externo”. [Acesso em 10.03.2009; http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf]
Segundo a National Joint Committee of learning disabilities (1988) é, presentemente a que reúne internacionalmente maior consenso, define Dificuldade de Aprendizagem sendo:
“Uma designação geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita, e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo e presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida”.
Sobre TDA/H (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), alunos cada vez mais freqüentes dentro das Instituições de Ensino. Muitas pessoas acreditam que o TDA/H é apenas um meio de aumentar a comercialização de remédios e justiçar a falta de tempo dos pais para educar seus filhos. O fato é que é considerado um Transtorno de Comportamento.
O mesmo apareceu em 1902 quando George Still publicou uma série de casos, onde 42 crianças avaliadas como sendo desatentas e com “Controle Moral Deficitário”, descrevendo o comportamento dessas crianças. Mais foi a partir da década de 1960 que começam a surgir definições.
Pesquisas indicam que em uma sala de aula de mais ou menos 30 educandos no mínimo dois possui TDAH. Tendo características de hiperatividade.
A hiperatividade apresenta três tipos: desatento, hiperativo/impulsivo ou os três tipos combinados, o tipo desatento é mais encontrado em meninas. Muitas vezes essas, se encontram quietas mais as cabeças esta muito longe da aula.
Acreditando que hoje pela falta de tempo, a criança cada vez mais esteja ficando de lado tendo muitas vezes a educadora o papel de passar conhecimento e de educar para vida. Mais o TDH/A existe, não é um transtorno inventado. É claro que existem crianças que não tem limite, mas as crianças com TDAH são Hiperativa sempre.
Muitos educadores acreditam que essa criança que está ali quieta é aluna perfeita e nem tentam estudar o seu comportamento e descobrir técnicas para que as mesmas consigam aprender.
O outro tipo hiperativo/impulsivo encontrado a maioria das vezes nos meninos, a dificuldade de seguir regras e normas estabelecidas Baixo nível de tolerância: não sabe lidar com frustrações, com erros (nem os seus, nem dos outros). Muitas vezes sente raiva e se recolhe, “Eu pude ter a experiência de trabalhar com crianças assim, apesar da dificuldade de ensiná-las são crianças inteligentes que tem muita vontade de aprender”.
Muitas dessas situações são enfrentadas constantemente pelos educadores, esses que muitas vezes na intenção de incluir e entender a criança acabam por excluí-la simplesmente por não estarem preparados para enfrentar a realidade. Com toda essa dificuldade muitas crianças não chegam a terminam o ensino médio.
Compreender a tarefa do educador enquanto agente facilitador no processo ensino aprendizagem é entender que tal tarefa exige preparo especializado. E o seu grande desafio é conhecer e compreender o modo dos educandos serem e estarem no mundo e quanto maior esse conhecimento, maiores serão as possibilidades de transformação tanto pessoal como socialmente, quando nossa sociedade necessita de indivíduos capazes de adaptarem-se às necessidades de mudanças na vida.
Partindo da informação de que a capacidade de focar a atenção e controlar a motricidade em ambientes com muitos estímulos, como uma sala de aula, reduz significativamente a presença do TDAH, cabe ao professor pesquisar e conhecer as características desse transtorno. Buscando assim uma melhor adequação dos recursos pedagógicos em sala de aula, diminuindo assim as tensões entre os atores desse processo.
Identificar as características e como trabalhar um aluno com TDAH é uma tarefa que exige cautela. Segundo afirma Rohde (2003, p.18), “Deve-se fazer uma avaliação para indicar se um determinado comportamento da criança pode ser comparado com o de um grupo de crianças da mesma faixa etária e sexo”.
É muito importante se ter em mente que um certo grau de desatenção e hiperatividade ocorre normalmente nas pessoas. Devidamente diagnosticada e encaminhada para um tratamento, o professor deve dispor de um atendimento especial e diferenciado ao aluno hiperativo, bem como avaliar seus pontos forte e as dificuldades para que se faça um atendimento diferenciado aos seus déficits. Conforme esclarece (Brioso e Sarrià 1995, p.164)
“O conhecimento, por parte do professor [...] é condição necessária para que proporcione a resposta adequada às necessidades da criança [...] devemos ter em mente suas dificuldades de concentração durante tempo prolongado, bem como para selecionar a informação relevante em cada problema, de forma a estruturar e realizar uma tarefa”.
Através de estudos conclui-se que a hiperatividade é mais facilmente detectada quando a criança inicia seus estudos, mas que tais comportamentos já se manifestam a partir dos cinco anos e em alguns casos até antes.
A criança hiperativa em fase de alfabetização precisa de método próprio, o colégio deve elaborar técnicas auxiliando o hiperativo a aprender do seu jeito. Segundo esclarece Karam (2006, p.08), para Antoniuk “A escola durante a alfabetização pode gerar ansiedade no hiperativo. Por isso, é importante ensinar primeiramente as letras e os sons de cada uma, ao invés do método global utilizado atualmente”. A professora deve saber identificar o problema para não rotular o aluno.
Assim, devidamente confirmado o distúrbio, o educador deverá ter mais atenção com esse educando mudando a estrutura da sala de aula, utilizando estratégias de ensino, oferecendo apoio e incentivo e, principalmente, manter contato direto e freqüente com os pais do hiperativo. É fundamental frisar que a identificação precoce do problema, seguida de tratamento adequado tem permitido a criança superar todos os obstáculos.
Esse é o verdadeiro sentido da inclusão, não criticar a criança excessivamente, pois há tarefas que não será capaz de realizar e críticas só fragilizará sua auto-estima, encorajá-la com frases como: “se você não entender, peça para que eu explique novamente”. Dar menos ortografia e problemas. Proporcionar oportunidades para movimentação em sala de aula, concomitantemente, o professor não deve aceitar seu comportamento sem limites. Fazer provas sem controle de tempo ou permitir o término da mesma em outro horário, caso seja necessário avaliações diferenciadas deverão ser planejadas, como por exemplo, fazer mais uso de cobranças verbais.
A motivação tem um papel fundamental no processo de aprendizagem, é ela que vai fazer com que o educando com hiperatividade consiga aprender com mais facilidade trabalhando a sua inconstância de atenção e ativando a sua hiper concentração.
Aos poucos, o educando hiperativo tem de perceber que não pode irritar os colegas, falar em hora errada levantar-se toda hora. As tarefas de casa também merecem atenção especial, pois a criança hiperativa necessita de mais tempo, para realizar suas atividades, tudo isso se deve pela falta de desatenção que o mesmo possui, tendo que haver mudanças nas quantidades de tarefas exigidas pelos educadores.
Transformar a cultura do fracasso, presente em nossas escolas, em cultura do sucesso, certamente, não dependerá exclusivamente da formação do professor, pois uma série de fatores contextuais também interfere, mas qualquer que seja o projeto de formação, para que tenha alguma possibilidade de êxito, dependerá do apoio e da participação do sujeito para o qual se destina.
Acreditar no princípio de que todas as crianças podem aprender e que todas devem ter acesso igualitário a um currículo básico, diversificado e uma educação de qualidade, é a base para incluir não só o educando e o educador, mas a escola.
A Escola Nova Lar de Menores em Viamão, está iniciando um caminho que é longo e continuo, onde os desafios são grandes e que devem ser superados a cada dia, sendo desafiada a incluir o diferente. Tendo que sair duma metodologia que todos eram avaliados da mesma forma, tendo um novo olhar na forma de aprender.
A inclusão ainda é algo que deve ser conquistado, como a própria palavra diz: Inclusão, do verbo incluir (do latim includere), significa conter em, compreender ou participar.Inclusão escolar diz respeito ao ato de incluir e à condição de o aluno sentir-se contido na escola, participando e contribuindo com seu potencial para projetos e programações da instituição.
A inclusão requer um discernimento sobre o olhar com respeito às diferenças, bem como, sobre as expectativas que se tem a respeito do educando e as conseqüentes exigências a serem feitas.
A Educação inclusiva deve possibilitar o acesso de todos os alunos ao ensino regular. “Todos os alunos” isso é lidar com a diversidade, com as diferenças. A escola, sala de aula, são lugares de inclusão, do gordo, ou do magro, do pobre ou do rico, de crianças com TDAH, de óculos ou sem óculos, reformular e estruturar as escolas como um todo exige mudanças, assim surge uma nova proposta educacional, de proporcionar uma educação de qualidade a todas as crianças, tendo um planejamento, reformulação de turmas, currículo adequado e uma gestão que saiba identificar essa realidade nova que está cada vez mais freqüente dentro das Instituições escolares. Para haver a inclusão não basta mudar apenas a estrutura física.
Uma proposta de mudança de postura diante das dificuldades vem se intensificando com o passar dos tempos, o educando com TDAH, não podem ser responsabilizados pelo fracasso escolar. A concepção da escola inclusiva é a de conseguir educar todos os alunos em sala de aula regular.
REFERÊNCIAS
BRIOSO, Angeles; SARRIÁ Encarnación. Distúrbios de Comportamento. In. COLL, Cezar et al. Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Trad. DOMINGUES, Marcos A. G. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. V.3, cap.10, p.160-164.
CNE/CEB/MEC. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Resolução 02/2001, art.5º. Acesso em 10.03.2009; <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.
CONDEMARIN, Mabel; GOROSTEGUI, Maria Helena; MILIC Neva. Transtorno de déficit de atenção: estratégias para diagnostico e intervenção psicoeducativa. Trad. LOPES Magda. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.
Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, (1944: Salamanca). Declaração de Salamanca, e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. 2. Ed. – Brasília: CORDE. 1997.
KARAM, Luiza Prestes. Criança hiperativa precisa de método próprio. Gazeta do Povo, Curitiba, p.8, 21 fev. 2006.
MANTOAN. M. T. E. O direito as diferenças nas escolas – questões sobre a inclusão escolar de pessoas com e sem deficiência. REVISTA CEESP 01/a. 2004.
ROHDE. Luis Augusto; MATTOS, Paulo ET al. Princípios e Práticas em Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003.
[1] FELIPPIN, Lúcia Maria Torres. Relatório de Docência em Séries Iniciais. Curso de Pedagogia. ULBRA/RS. 2009.
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